Pode ser diretamente consultada em http://issuu.com/res.vista/ docs/r__svista_n__2
E diariamente acompanhada em https://www.facebook.com/ resvistaonline
Espaço de encontro e de reunião no centro da 'polis' com o olhar fixo no 'cosmos' sempre que o 'chronos' o permite... Trata-se de uma projeto, uma aventura pelo mistério da Palavra e do Verbo que se fazem acontecimento pelas Tecnologias da Informação e Comunicação em Ambientes Digitais.
![]() | |
Cristo crucificado de Goya
1. Descrição
Autor Francisco
Goya y Lucientes
Data 1780
Suporte e técnica Tela com pintura a óleo
Formato 255cmx154cm
Localização da obra Museu do Prado, Madrid
Temática Crucifixão de Jesus
Luz e Cor Predomina o fundo
escuro e cores suaves
Tema Religião
Elementos e pormenores
A figura de Cristo na cruz; a cruz, muito robusta, tem uma peanha onde apoiam os pés; são apresentados quatro cravos no corpo de Cristo; o corpo não apresenta sinais de feridas, a cabeça de Cristo está inclinada sobre a esquerda e o rosto olha para cima.
2. Análise
História da obra
Esta pintura foi elaborada como
prestação de provas para ingressar na Real Academia de Belas
Artes de San Fernando em 5 de julho de 1780.
Enquadramento
histórico/cultural em que viveu o autor
Ao
longo do século XVIII a arte e a religião vão-se afastando uma da outra, fruto
da influência do iluminismo. Os artista, agora, trabalham já não só para a
Igreja mas acima de tudo para a Corte. Por outro lado, a piedade popular
alimenta-se de uma espiritualidade decadente, incapaz de dialogar com um mundo
cada vez mais marcado para decisão do homem sem qualquer interferência do
religioso. Consequentemente a imagem de Cristo é adocicada e diminuída na sua
realidade. Ganha relevância o humano.
Conceções filosóficas e
religiosas do autor
Goya
viveu e cresceu num ambiente religioso católico, com grandes amizades
eclesiásticas, como o Frei Juan Fernandez de Roja, a quem consultava na hora de
criar as suas obras. Progressivamente Goya foi bebendo a influência do cartesianismo e das ciências
experimentais, pelo que a sua religiosidade se tornou mais ilustrada e crítica.
A Inquisição perseguiu, o que também contribuiu para o seu distanciamento da
Igreja, sem se afastar, contudo, da vivência do religioso.
Temática abordada
Goya aborda a crucifixão de Jesus
Escola / Estilo /Influencias
O recorte da figura de Cristo
sobre um fundo neutro muito escuro denota a influência de Velasquez, assim como
a luminosidade que irradia daquele corpo. A influência de Anton Raphael Mengs
vê-se pelo avanço da perna enquanto Cristo olha para cima. De Francisco Pacheco
recebe a influência pela inclusão de quatro cravos em Cristo. Há muitas
influências nesta obra de Goya, do Barroco ao Neoclássico, pois é visível o
retrato de um corpo humano perfeito nas suas proporções, sem qualquer ferida,
sem derramamento de sangue.
Suporte bíblico histórico da
obra
Mt
27, 46; Mc 15, 34;
3. Interpretação
Elementos significantes
O
primeiro elemento relevante diz respeito à finalidade desta obra: realizada
para um evento cultural e académico e não como elemento devocional ou de culto.
É-nos apresentado um corpo jovem e formoso, sem qualquer sinal de violência
extrema, sem aquela crispação e agonia comum em outras representações da
crucifixão. Se por um lado o corpo é perfeito e até irradia luz, o rosto ganha
uma outra dimensão pela expressão de dor, do olhar dirigido para o céu e que
parece gritar: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste». Este contraste
entre o rosto e o corpo como que expressam
essa divisão entre o humano e o divino, atribuindo a Deus a culpa do
rosto sofrido, enquanto o corpo permanece calmo e sereno, capaz de irradiar uma
luz cativante e central. O humano distrai do sofrimento.
Leitura comparada
Esta
obra de Goya quando comparada com outras similares, revela da parte do autor um
afastamento do religioso e uma maior atenção ao humano, algo que
progressivamente se vai verificando ao longo dos séculos XIX e XX: a
secularização da sociedade e a dessacralização de alguns ícones religiosos,
como é o caso da crucifixão. Quando olhamos Cristo de São João da Cruz, da
autoria de Salvador Dali, verificamos também a ausência coroa de espinho e do
sangue, isto é, dos sinais do sofrimento. Alias, nem o próprio rosto de Cristo
se vislumbra (o espetador tem de adivinhar o rosto), pois o ângulo de abordagem
é colocado fora da terra, como se o pintor fosse Deus que olha o seu filho
crucificado.
Leitura atual
A
leitura atual desta obra remete-nos para uma compreensão de Cristo imerso na
imensidão do humano, assumindo a beleza e a bondade do mundo. Cristo
“mundaniza-se” quando assume também as dores e as angústias da humanidade e
grita para Deus: onde estás?
O Cristo crucificado de Goya transporta-nos para uma vivência do religioso em perfeita cumplicidade com o humano, nada rejeitando, a não ser o sofrimento desnecessário: Goya retira sofrimento a Cristo para que os homens de hoje não sofram para encontrarem a Cristo. O sofrimento não é opção válida, não é o destino da humanidade. E quando ele está aí não se rejeita mas assume-se carrega-se com beleza e harmonia. O homem sofredor não é menos homem, tal como o Cristo crucificado de Goya não é menos humano. Por isso, a crucifixão é lugar e caminho da humanidade quando se torna significativa para o homem. A leitura atual da crucifixão feita por aluna de artes, coloca os braços Cristo para o alto, apontado outros caminhos que não os da terra, como que pedindo libertação… |