quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Novos Paradigmas Educacionais

Com o final do século XX e o advento do século XXI, impôs-se um novo paradigma social, comummente designado por «Sociedade da Informação» ou também «Sociedade pós-industrial» (Bell), «Aldeia Global» (McLuhan), «Sociedade em Rede» (Castells) ou ainda «Infoera» (Zuffo). O livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal (1997), refere que “a expressão ‘Sociedade da Informação’ refere-se a um modo de desenvolvimento social e económico em que a aquisição, armazenamento, processamento, valorização, transmissão, distribuição e disseminação de informação conducente à criação de conhecimento e à satisfação das necessidades dos cidadãos e das empresas, desempenham um papel central na atividade económica, na criação de riqueza, na definição da qualidade de vida dos cidadãos e das suas práticas culturais. (…) Esta alteração do domínio da atividade económica e dos fatores determinantes do bem-estar social é resultante do desenvolvimento das novas tecnologias da informação, do audiovisual e das comunicações, com as suas importantes ramificações e impactos no trabalho, na educação, na ciência, na saúde, no lazer, nos transportes e no ambiente, entre outras.”

A Sociedade da Informação significa, pois, uma alteração significativa no modo como a comunicação, a relação e a interação das pessoas entre si se realiza, uma vez que, por se viver numa «sociedade em rede», é diminuta a distância entre ‘acontecimento’ e ‘disponibilização da informação’; as distâncias são relativizadas pelos novos meios de comunicação, pois o longe se faz perto; o acesso à informação e ao conhecimento democratizou-se numa escala global (ainda que não de forma generalizada, isto é, para todos). Criou-se deste modo um novo tipo de classe social: os info-excluídos. Segundo o Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal (1997), “a democratização da sociedade do futuro passará pela possibilidade da grande maioria da população ter acesso às tecnologias de informação e pela capacidade real de as utilizar. Caso contrário elas podem tornar-se num poderoso fator de exclusão social.” O impacto deste modelo social tem exercido uma forte pressão sobre os sistemas educativos, na medida em que a escola já não tem o monopólio da transmissão dos saberes, deixou de ser o espaço por excelência do acesso ao conhecimento, já não tem aquela imagem de autoridade e o professor deixou de ser o único capaz de transmitir os saberes.

Como refere um José Calixto (1996), “a sala de aula passa a ser apenas um entre muitos outros locais, na escola e fora dela, onde as experiências de aprendizagem têm lugar”. O mundo tornou-se ele mesmo, uma grande sala de aula, em que os atores são muitos mais que apenas o professor e o aluno, pois são criadas a cada instante um sem número de relações individuais e de grupo. Neste novo paradigma de cultura escolar, centrada no aluno e nos recursos e baseada na pesquisa, o professor, a família e demais agentes educativos assumem o papel de mediadores entre os alunos e a cultura. Ao professor cabe, sobretudo, o papel de tutor da aprendizagem, ajudando os alunos a utilizar os meios que hoje estão ao seu dispor, isto é, que o aluno aprenda a aprender.

Ross Todd (2008) defende que o atual estado do desenvolvimento e acesso às novas tecnologias obriga a repensar profundamente a pedagogia, de tal modo que os alunos, diante da enorme quantidade de dados e informação a que têm acesso, sejam capazes de construir conhecimento, desenvolver capacidades de pensamento crítico, construir representações dos novos conhecimentos de modo criativo, inclusivo e ético. Marc PrensKy (2008) chamava a atenção para o fato de que é a educação fora da escola e não a que acontece nesta, quem está a preparar as crianças e adolescentes para o século XXI. Assumindo esta realidade, cabe à escola trabalhar num outro sentido, ajudando os alunos a que “aprendam a aprender”, a que transformem a informação disponível em conhecimento. Conhecimento é o ato pelo qual a consciência, abrindo-se ao mundo circundante, o torna presente a si mesma. Diz-nos Costa Freitas (1998) que conhecer é ter consciência de alguma coisa, pelo que consciência e conhecimento constituem uma unidade indissolúvel: não consciência sem conhecimento e não pode haver conhecimento sem consciência. Ter consciência de qualquer coisa, ser dela consciente e conhecê-la, é identicamente a mesma coisa. Imersos num mundo ‘googleizado’, em que a escola é chamada a fazer uma abordagem holística dos processos de aprendizagem (ao cognitivo há que juntar as dimensões afetiva e comportamental), é necessário edificar uma cultura escolar e desenvolver ambientes de aprendizagem assentes no compromisso, na curiosidade, na criatividade e nos interesses dos jovens e dos professores.

Sem comentários: